terça-feira, 14 de agosto de 2012

O Machista Responde ( 2)

Grande Professor Doutor Machista, atende todos os casos. Verdadeiro místico com curriculum internacional. Desfaz feminismo, romantismo, tensão pré-menstrual, apatia para a lida da casa, esperanças de encontrar um príncipe encantado, tendência para queimar o jantar e várias outras maleitas.

Pagamentos apenas depois dos resultados obtidos.

Escritório próximo ao Lidl da Brandoa.


A resposta cientificamente machista, às dúvidas dos nossos leitores.



João Manolo Gina, professor universitário de sociologia / estudos feministas, 35 anos, de Tavira, 

pergunta:

« Dr.Machista, toda a minha vida tentei respeitar e entender as mulheres, abraçando o activismo feminista assim que entrei na idade adulta. Supostamente, por aquilo que li em livros da especialidade, devia ter uma vida feliz com a minha esposa, mas isso não acontece. Esforço-me ao máximo, mas sinto que estou a falhar no objectivo de a agradar e fazer feliz. O mais estranho é que o meu maior amigo, a pessoa que me convenceu e inspirou a ser feminista, trabalhamos na mesma faculdade, não tem os mesmos problemas que eu. O que me sugere? Estou desesperado.  »

Caro João, 

Confesso que me repugna responder à sua carta. Mas também é verdade que ninguém disse que o trabalho de um doutorado em machismo era fácil. Vamos lá.

Primeira sugestão: arranje um emprego de homem. Que profissão é essa? A piada do século.

Enfim, o seu caso é tão grave que nem sequer é ético dar-lhe a solução por carta. Sugiro que se inscreva na semana de férias do retiro machista que eu organizo na minha quinta particular de seis em seis meses ( só mesmo para casos graves, praticamente perdidos, como o seu). Trata-se, basicamente, de um curso intensivo. Aviso importante: prepare-se para ser insultado e submetido a sessões de pancada. Se é que a sua esposa já não o preparou para isso...

O objectivo será repor os seus níveis de testosterona e masculinidade a níveis normais e aceitáveis. O rigor científico do nosso método é dos mais avançados do mundo.

Nunca encontrei nem tratei um caso tão grave como o seu, mas não desanime. O Dr. Machista gosta de desafios.


Supostamente, diz o João, devia ter uma vida feliz, tendo em conta as teorias que abraçou. Nada mais falso. Tendo em conta, isso sim, que as teorias que abraçou foram inventadas para enganar idiotas como o João, não deve ficar surpreendido pelo estado miserável em que se encontra. Esforça-se para agradar a sua esposa e aí tem o resultado: a sua esposa trata-o como um cão. ( adivinhei, não adivinhei, João?)

Quanto ao seu amigo, não me surpreende que ele se dê bem na vida. Se é feminista, mas não é infeliz nem enganado/oprimido pelas mulheres, então é porque se trata de um chico-esperto que usa o feminismo para ganho pessoal ( conquistar mulheres no meio feminazi), e não um idiota e idealista como o João, que acredita e leva a sério as parvoíces feministas.

PS- Para ir adiantando trabalho, comece a ser carrancudo e mal-humorado para a sua esposa. Em vez de "bom dia, posso fazer algo por ti ?" ou "está tudo bem? queres falar?", comece a dar-lhe algumas pequenas ordens assertivas ( eg. "lava o raio da louça, já!"  ou "cala a boca, mulher!"). No início vai custar muito ao João, visto o estado em que se encontra (ser uma borboleta, e não um homem). Para não desmotivar, pense que o caminho para a felicidade ( do João e da sua esposa) depende muito desse tipo de treino.

Manuel Homem, 65 anos, reformado do Exército, do Carregado, pergunta:

« Dr. Machista, sou casado há 40 anos e tenho tido uma vida feliz. Sempre soube meter as mulheres no devido lugar e dar-me ao respeito. A minha dúvida não é um grande problema. Simplesmente,  agora com isto da crise, uma das medidas que adoptámos aqui em casa ( ou melhor, eu adoptei! ) é termos apenas uma televisão. Ora,  eu gosto de futebol, e nesse horário a televisão é sempre minha. Afinal de contas, eu que é visto as calças.

No entanto, só aqui entre nós, às vezes sinto-me um pouco culpado, não muito, por  não deixar a minha mulher ver a telenovela. Será que não exagero quando faço questão de ver uma partida de futebol quando a minha mulher quer ver a novela, mesmo que seja um jogo do campeonato islandês? Grato se me puder responder. E muito obrigado por se dedicar a tentar salvar a juventude perdida que temos hoje »

Olá Manuel. É sempre agradável receber cartas de pessoas normais, como é o seu caso. 

A dúvida que levanta é fácil de responder: deve deixar a sua mulher ver a novela, porque quer  e não por se sentir culpado. Se, imaginemos, há um dia em que a sua mulher, sem ninguém a mandar, executou as tarefas domésticas que lhe competem por dever natural, com um sorriso no rosto e de boca fechada, então é moralmente aceitável que o Manuel a deixe ver quinze ou vinte minutos de telenovela ( mais do que isso é exagero), como prémio. Ou reforço condicionado positivo, para usar o termo cientificamente correcto. No entanto, isto só deve ser feito se:

a) O Manuel não tiver mesmo interesse em ver a partida de futebol em questão,
b) a sua mulher não tiver exigido nem sequer verbalizado o pedido "posso ver a novela?"

Portanto, resumindo,

1. A sua mulher desempenhou as tarefas domésticas sem ( tentar) criar um mau ambiente emocional na casa.
2. O Manuel não quer ver o jogo de futebol
3. A sua mulher nem sequer coloca em hipótese pedir-lhe para ver a novela.

Nesse caso, a minha sugestão é a seguinte. O Manuel, com toda a naturalidade e tranquilidade, não pergunta "queres ir ver a novela ?" ( atenção a este pormenor!), simplesmente ordena algo do tipo "vai lá ver um bocado da novela até às X horas. A partir dessa hora quero que comeces a fazer o jantar".

O que a ciência machista nos diz é que o Manuel, nas circunstâncias que descreve, pode deixar a sua mulher ver a novela, ou não. É uma questão de critério e gosto pessoal.

No meu caso, não deixaria. Mas como se trata de um casamento duradouro, admito que faça algum sentido o Manuel querer recompensar a esposa com esse tipo de mimos. Não pode é exagerar e tem de dominar sempre a situação. Se a deixa ver a novela é porque quer, e não por qualquer ilusão de culpa ou pena. Nunca se esqueça disso. 

Saudações e eu é que agradeço a sua excelente questão e o seu bom exemplo para a nossa juventude.

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