segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Mensagem para Clint Eastwood

Aviso: o autor deste texto é um profissional machista de reputados méritos e carreira, com autoridade para fazer reparos aos seus camaradas de profissão. Por favor, caro leitor amador, não tente dar lições de masculinidade a referências internacionais do masculinismo. Não tente isto em casa!

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No filme Million Dollar Baby há uma cena, praticamente no início, em que a personagem de Clint Eastwood diz à de Hilary Swank:

"I don't train girls. Female boxing  is the latest freak show."

A seguir a essa fala, o filme deveria ter acabado com a seguinte comovente cena final:


Infelizmente, o realizador preferiu estragar aquilo que tinha tudo para ser uma obra-prima e prolongou o filme para aquilo que se sabe: a história piegas de uma pugilista incompetente. 

A provar que ceder ao feminismo, seja em que ponto for, só traz consequências más, o filme termina com a apologia da prática nazi da eutanásia. Caso o velho treinador se tivesse mantido fiel à sua convicção, verdadeira, de que o boxe feminino é um "freak show", a miúda nunca teria entrado no ringue nem teria batido com a cabeça na cadeira. E assim, também não teria havido o  consequente dilema "fracturante" de optar entre matá-la ou deixá-la acamada e incapacitada para a vida inteira. Falso dilema diga-se, o qual Clint ( diz-se conservador ) resolveu matando a sua "atleta" como se estivesse a praticar caridade.

O mais estúpido de tudo isto é que a personagem de Hilary, a triste aspirante a pugilista, já trabalhava a lavar pratos. Bastaria mesmo ter acrescentado, depois de "female boxing is the latest freak show", um simples e assertivo "Get back to the kitchen!"

Termino com uma citação sobre algo tão simples que escapou a Clint Eastwood:

« O boxe é uma actividade puramente masculina e habita um mundo puramente masculino. (..) Embora haja mulheres pugilistas - facto que surpreende, alarma e diverte - o papel das mulheres deste desporto é puramente marginal. Nos combates de boxe, o papel das mulheres é limitado ao da rapariga de cartaz e ocasional cantora do hino nacional: de outro modo, as mulheres não têm lugar no espectáculo. As raparigas dos cartazes, nos seus fatos de banho e saltos bicudos, raparigas atraentes à anos 50, complementam os pugilistas nos seus calções e sapatos de ginástica, mas não são para ser levadas a sério; a sua exibição pública não envolve qualquer risco e é puramente decorativa. O boxe é para homens, e diz respeito a homens, é masculino. Neste mundo, um certo tipo de força, aliada, é claro, à inteligência e a qualidades incansavelmente desenvolvidas, determina a masculinidade. Tal como um pugilista é o seu corpo, a masculinidade de um homem é o uso que ele faz do seu corpo. Mas é também o triunfo sobre o corpo de outro.O oponente é sempre homem, é o rival da masculinidade de outro homem, realizada totalmente pelo combate. Homens lutando contra homens para determinar o valor ( masculinidade) é algo que exclui totalmente as mulheres, assim como a maternidade exclui os homens. (...) A mulher pugilista é uma paródia, uma caricatura e uma monstruosidade. Se tiver uma ideologia, será muito provavelmente uma feminista. » Joyce Carol Oates, o Boxe, Edições 70

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